Caderno Bem-viver

Meu filho é autista, e agora?

Diogo Brondani


Abril é lembrado por ser o mês Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado no dia dois. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), o popular autismo, é uma condição especificamente humana que afeta a percepção social e comunicação dos pacientes. Infelizmente, os sintomas muitas vezes são confundidos com birra, desinteresse ou falta de educação pela população leiga. Por ser silencioso, em muitos casos, os pais demoram a perceber que seus filhos desenvolveram o distúrbio.
O autismo se caracteriza por uma constelação de sintomas, sendo que os primeiros deles já podem estar presentes logo nos primeiros meses de vida da criança. Entretanto, inicialmente, não são reconhecidos pelos familiares. De forma geral, há uma dificuldade de interação social, comunicação e a presença de comportamentos repetitivos, interesses mais restritos e uma necessidade de manter uma rotina mais rígida.
O neuropediatra Luciano Hartmann explica que o diagnóstico é totalmente clínico, baseado em critérios médicos. Atualmente, são usados os critérios do Manual de Saúde Mental (DSM-5).
- Para chegar ao diagnóstico, as informações familiares, exame neurológico da criança, informações escolares (quando a criança já frequenta a escola) e avaliações de outros profissionais (Educadores Especiais, Psicopedagogo, Fonoaudiólogos, Psicólogos, Terapeutas Ocupacionais) são de grande importância - comenta Hartmann. Quanto aos diferentes graus de Autismo, o neuropediatra afirma que não existem pacientes com transtornos idênticos. A severidade dos sintomas e o quanto isso impacta na vida do portador irá determinar a gravidade do quadro. 

- É muito importante saber que pacientes que apresentam, inicialmente, quadros mais severos, podem minimizar esses sintomas se receberem os tratamentos adequados, reduzido a gravidade do transtorno - complementa. 

Causas desconhecidas 

Os fatores que podem desencadear o autismo ainda não são conhecidos. No entanto, na opinião do neuropediatra Luciano Hartmann, com os avanços da medicina, principalmente na área da genética médica, cada vez mais os indícios apontam para alterações genéticas como sendo a causa da maior parte dos casos. Segundo ele, fatores ambientais (intercorrências que ocorrem na gestação, uso de substâncias durante a gravidez e intercorrências ao nascimento) geram também maior risco para o desenvolvimento do Transtorno do Espectro Autista.

- É importante salientar que há a possibilidade de tratamento e esse é totalmente voltado para a estimulação global dessas crianças, sendo que quanto mais precoce uma criança for estimulada, melhores serão os resultados - considera o neuropediatra.

Sintomas 

- Pouco contato visual com os pais (com a mamãe na hora da amamentação, por exemplo);
- Sorrir pouco ou não sorrir e, principalmente, não demonstrar reação ao sorriso dos pais;
- Não fixar e não acompanha os pais quando estes se afastam da criança;
- Poucas expressões faciais;
- Não estender os braços quando quer o colo da mãe;
- Não olhar quando chamado pelo nome (ou pela forma como é chamado em casa), parecendo não ouvir;
- Não apontar o que quer;
- Não compartilhar seus interesses com os pais (não vem espontaneamente mostrar objetos, brinquedos ou descobertas);
- Não dar "tchauzinho" ou não bater palmas em idades onde isso já seria uma habilidade aprendida;
- Não balbuciar palavras;
- Não pronunciar nenhuma palavra inteligível e não demonstrar intenção de se comunicar com as pessoas, não buscar os pais ou familiares para tentar se comunicar;
- Não elaborar palavras simples ou frases simples de duas palavras antes dos dois anos;
- Pode apresentar repetições de palavras ditas pelos pais ou frases de desenhos, sendo que as repetições não aparentam ter objetivo de se comunicar, simplesmente, repete o que ouviram (como se fosse um eco);
- Por vezes, falam apenas frases ouvidas de desenhos, ditas de forma aleatórias;
- Pode ter reações exageradas (ou poucas reações) frente a estímulos sonoros (liquidificador, secador de cabelo, etc), visuais (luzes), ao toque, cheiros, texturas;
- Podem ser seletivos na hora da alimentação (aceitar apenas alguns alimentos, por vezes da mesma cor ou textura, não aceitando provar ou mudar o cardápio);
- Tem interesses incomuns (objetos circulares ou com movimento circular, formas geométricas);
- Gostar de rotinas, ordem (enfileirar objetos) e rituais;
- Pode ter dificuldades em usar brinquedos de forma funcional e de brincar de forma imaginativa como "faz de conta";
- Tendem a brincar de forma mais isolada, individual, mesmo quando possuem a oportunidade de brincar com outras crianças;
- Podem ter alguns movimentos corporais repetitivos, sem uma funcionalidade, principalmente em momentos de alegria/euforia;
- Podem ter regressão de marcos do desenvolvimento conquistados, por exemplo, começam a falar palavras e depois regridem. 

Fatores de risco 

- Sexo masculino: o autismo é de duas a quatro vezes mais frequente em meninos do que em meninas;
- Predisposição genética;
- Poluição;
- Infecções como rubéola durante a gravidez; 

O diagnóstico 

Não existem exames laboratoriais ou de imagem que ajudem a identificar o autismo. Em geral, o médico considera o histórico do paciente, a observação de seu comportamento e os relatos dos pais. A partir daí, ele costuma seguir critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ou pela Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde. São observados ainda traços como inabilidade para interagir socialmente e comportamento restritivo e repetitivo.

Se por um lado há autistas gravemente incapacitados, que não conseguem nem falar, por outro se encontra o problema em pessoas com alto desempenho em alguma habilidade, como pintar ou fazer contas matemáticas. Pacientes de alta funcionalidade, com ausência dos sinais clássicos da doença, muitas vezes acabam recebendo o diagnóstico correto apenas quando adultos.

O tratamento 

Não há cura para o autismo. Remédios para lidar com ele só são prescritos na presença de agressividade e de outras doenças paralelas, como depressão. O tratamento deve ser multidisciplinar, englobando médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos e pedagogos. Em resumo, tudo isso visa incentivar o indivíduo a realizar, sozinho, tarefas como se vestir, escovar os dentes e comer. Isso, claro, sempre de acordo com o grau de dificuldade de cada criança. Quando as intervenções são feitas precocemente, há boa chance de melhora nos sinais do autismo.

A prevenção

Na falta de causas comprovadamente capazes de provocar o autismo, a recomendação para as grávidas é evitar ambientes com alto nível de poluição, exposição a produtos tóxicos e ingestão de bebida alcoólica, por exemplo. Outra medida bem-vinda é se vacinar contra rubéola para evitar essa doença infecciosa durante a gestação.


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